quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Quando quer....

Tem aquele ditado...


Então...
Dizem que quando uma mulher quer alguma coisa, quando uma mulher encasqueta com algo, não tem ninguém nesse mundo que segure. O ditado é machista, mas tem sentido: água morro abaixo, fogo morro acima e mulher quando quer dar não tem o que segure. Mas homem também não fica atrás.
Leni é uma mulher jovem, bonita e com a sensualidade de seus 28 anos explodindo. Casada por conveniência, casamento arranjado pelos pais que conseguiram se livrar de uma divida e ainda de bônus uma casa na cidade, ela vivia com um fazendeiro muito rico, mas um porco chauvinista que morria de ciúmes de Leni, pois ela era a sua maior conquista, dando um certos status ao velho fazendeiro, passear com uma bela formosa pelas ruas da cidade.
Seu Valentino, o velho fazendeiro, gostava muito de uma cachaça, jogar baralho no bar da esquina da Igreja, contar vantagem de quanto estava indo bem a sua fazenda e passar suas horas no puteiro da cidade onde ele já era sócio.
Mas como todo ciumento neurótico, ficava louco com qualquer conversa sobre sua linda esposa, qualquer comentário sobre sua esposa, era motivo de encrenca, que ele resolvia colocando seu capataz Juvenal pra dar um jeito no peão abusado.
Pra garantir a rotina abstinente de sua esposa, Valentino colocou Juvenal na cola da Leni o dia todo. Mas seguia a distancia, como um guarda-costas, meio vigilante, meio espião. Ele tinha que vigiar, não precisava ficar junto da jovem porque o velho fazendeiro também não confiava em Juvenal, já que o mesmo tinha uma péssima fama de arrasar as cabritas da cidade. Comprou uma moto, artigo de luxo naqueles confins do Nordeste, somente para que Juvenal vigiasse a menina dia e noite. Isso porque ela só ia para igreja aos domingos terças e quintas e para a casa de sua mãe nos sábados quartas e sextas. As sextas, de vez enquanto ficava muito tarde e como a cidade não tinha iluminação, ela dormia na casa de sua mãe, já que seu marido passava a noite na companhia das garotas do bordel da cidade.
O tempo foi passando e um dia na missa, aparece um rapaz muito bem apessoado, jeito de galanteador que é percebido por Leni. Uma amiga carole informa que o nome dele é Getúlio. Mas quando ela pensou em dar uma olha para Getúlio, o rapaz já estava babando para ela, jogando todo charme que tinha, pra conquistar a bela moça.
Leni não era de perder missa, agora então, não faltava a uma, no domingo, terças e quintas, lá estava ela cada vez mais bem vestida e arrumada para ver Getúlio que não economizava nos olhares para a moça. Apesar de ter sido avisado de forma clara, a situação dela, de mulher casada mas infeliz, e que o marido era extremamente bravo.
Mas sabe aquelas coisas que você não tem como explicar? Você vê uma pessoa e acende uma luz, dispara um alarme. Getúlio não levava em conta as ameaças que o povo impetrou quando contaram da situação da moça, e o que podia acontecer com quem aproximasse dela. Como por exemplo, com Toninho da Lola, um jovem rapaz que era apaixonado por Leni desde criança e que quando soube que ela iria se casar obrigada, tentou roubar a menina e fugir para outras terras.
Diz a lenda que Juvenal pegou Toninho no bar, bateu nele, arrastou com o cavalo pelas ruas da cidade, depois pisoteou com o animal, queimou, cortou em pedaços e depois jogou no rio.
A ordem ninguém sabe ao certo, mas foi isso que aconteceu.
E teve o caso de Frederico Medeiros, um advogado que foi cuidar da papelada da casa que Valentino deu aos pais de Leni, que ficou abobado com a beleza da moça e jogou seu charme pra cima dela.
O povo lá da fazenda falou que esse cara ficou amarrado num poste cheio de carne, e que Juvenal soltou os cachorros pra morder o coitado até ele morrer. Depois pegou ele deu mais uma surra de vara de marmelo, pendurou de cabeça pra baixo numa arvore e arrancou o couro do homem com ele ainda gritando. Depois colocou o coro no lugar de novo, queimou, cortou em pedaços e jogou no rio.
Mas Getúlio estava tão apaixonado que nada disso lhe colocava medo. Ele só queria um instante com Leni, já que ele tinha certeza que ela também correspondia ao seu sentimento.
Uma missa, na fila dá benção da hóstia, ele ficou bem atrás dela e puxou conversa. Claro que Leni lhe deu toda a atenção, estava tão apaixonada que não tinha como manter a pose de mulher casada.
Enquanto a fila andava vagarosamente ele se revelou e ela lamentou a sua situação que a impedia de retribuir ao sentimento que ele a ofertava.
Sempre claro, observando se Juvenal estava percebendo a conversa, que era mais do tipo falando às paredes, sem que os dois encarassem. Isso seria suicídio.
Mas funcionou muito bem, ainda mais quando pegavam a fila bem lá no final, com um monte de gente à frente, já que a igreja era grande e o pessoal todo ia pegar a hóstia consagrada. Muita gente já havia percebido a armação do casal, até o padre Bento que quando os dois se aproximavam, separava a fila para que ela recebesse a hóstia de sua mão e Getúlio de um auxiliar seu.
Aqueles encontros eram demasiadamente esperados por Leni, que esperava a sequencia da missa, para chegar a hora da hóstia, para a formação da fila para encontrar o seu amor. Isso já estava uma rotina, até que Getúlio falou bem sério:
- Vou dar um jeito da gente fugir.
Uma grande mistura de sentimentos inundou o coração de Leni, medo, paixão, angustia, terror e mais uma dúzia que fizeram com que seus joelhos enfraquecessem e ela ameaçou cair, mas foi prontamente amparada por Getúlio, que segurou a moça pelo braço e não a deixou ir ao chão. Aliás, esse foi o primeiro contato físico entre os dois, o que rendeu outro turbilhão de emoções na pobre moça.
Mas ai é que a coisa pega, depois da missa, Getúlio tentava bolar um plano pra conseguir fugir com a moça da cidade, sem acabar queimado cortado e jogado no rio, já que Juvenal estava sempre na cola e de olho em Getúlio já fazia uns dias.
Ai então ele bolou o plano perfeito, e nesse plano ele teria que ficar amigo de Juvenal, que não era de muitos amigos. Mas o charme do rapaz era bom, boa conversa e mentalidade para criar alguma coisa. Foi então que ele procurou Juvenal num bar no fim da noite, onde ele costumava beber dar uns tapas na bunda das meninas que serviam. Era um tipo de bordel, mas ninguém botava a cara, nem a policia, e numa dessas, ele se aproximou de Juvenal pagando uma cachaça e passando uma conversa.
- Ouvi falar muito do senhor, dizem que é uma cabra muito competente, do tipo que não tem meia função.
Juvenal respondeu – Sou mesmo, quem lhe falou não mentiu não. Comigo falo tá feito, não tem meia boca.
- E o senhor é muito forte, bom de faca.
Juvenal sacou a faca e com movimentos rápidos, estendeu a mão esquerda na mesa e com a direita cravava a ponta da faca entre os dedos, rapidamente e sem se machucar, demonstrando sua habilidade.
- Vixi do coitado que tá querendo lhe desbancar, vai morrer “facinho”. – disse Getúlio tomando um gole.
- Quem é o besta que tá querendo me desbancar? – falou Juvenal entornando meio copo de cachaça e limpando a boca na manga da camisa.
- O senhor não ouviu essa conversa não? Estão falando que tem um cabra ai, que falou que o senhor é frouxo e vai roubar a mulher do fazendeiro.
Juvenal levantou-se da mesa abruptamente, jogando a cadeira para trás e colocou a faca no pescoço de Getúlio – Fala agora o nome desse falecido.
- Olha – tentando virar a ponta da faca para outro lado – Isso eu não sei dizer não senhor, mas tá todo mundo falando que ele já marcou o dia e é na sexta, o dia que ela vai pra casa da mãe dela.
- Isso já ajuda muito. Então nesta sexta ela não sai de casa. – falou Juvenal decidido.
Percebendo o furo básico de seu plano, ele abraça Juvenal e tenta aconselhar.
- Não... O senhor não pode fazer isso – percebe que Juvenal não gosta da aproximação ele retira o braço – O senhor tem que deixar ela ir, porque se não for nesta sexta, vai ser em outra. O senhor tem é que pegar o cabra.
- Isso você está certo – responde Juvenal mais pensativo – Não vai adiantar porque o cabra pode não falar o próximo dia que ele vai tentar, ai o desgraçado rouba a menina e eu tô lascado.
- A gente tem que armar uma arapuca pra pegar esse safado.
- A gente? – pergunta Juvenal desconfiado.
- A gente – diz Getúlio voltando a abraçar Juvenal – O senhor é muito conceituado nessas bandas, e meu falecido pai, que Deus o tenha, falava muito bem do senhor, e eu não quero que um espelho pra mim fique desmoralizado.
- Espelho? – pergunta Juvenal sem entender?
- Isso mesmo, uma pessoa como o senhor é exemplo para todo cidadão de bem dessa cidade. A comunidade toda gosta do senhor e não pode ficar desmoralizada com uma façanha dessas. Escute só, eu tenho um plano.
Getúlio conta seu plano a Juvenal que não gosta muito a principio, mas depois concorda.
Na quinta, ele novamente a fila da hóstia, enquanto Juvenal ficou do lado de fora da igreja quase que revistando quem entra. Ninguém passava por ele sem ser severamente encarado, Getúlio se aproxima de Leni e diz a ela:
- E amanha que nós vamos fugir.
- Você está louco? Juvenal vai te matar. Ele vai pegar a gente e te mata.
- Fica tranquila e preparada. Só confia em mim e finja que nunca me viu na vida.
Na sexta, na hora normal em que Leni ia para a casa de seus pais, começou a desenrolar o plano de Getúlio. Ele bate na porta dos fundos da casa dos pais onde Leni já estava pronta, coloca na garupa da moto e pegam a estrada sem deixar rastro e sem olhar para trás.
Quando passam duas cidades, eles param num hotel e a curiosidade de Leni não permite mais nada, ela tem que saber como foi que isso havia acontecido.
Getúlio então conta.
- Eu disse a ele que tinha um cabra que ia roubar você essa noite. Então me propus a ajudar. Pra pegar o cabra, eu falei pra Juvenal que ficava com a moto dele e pegava você e lavava a fazenda de seu marido enquanto Juvenal ficava na frente de sua casa vestido de mulher e seu marido com mais cinco capangas esperando o cabra chegar pra te buscar, prontos para atirar no cabra.
- Você é louco!
- Mas funcionou, Juvenal ficou lá na frente, seu marido e mais cinco capangas prontos e armados esperando o cabra enquanto eu sai pelos fundos com você na moto dele.
Enquanto isso na frente da casa dos pais de Leni, Juvenal vestido de mulher grita para o fazendeiro que está escondido:
- Acho que ele não vem hoje não.

Anselmo Duarte


quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Politicamente incorreto

Quando é melhor ficar quieto...


Numa obra qualquer, dessas que você tem um encarregado e muitos trabalhadores que são contratados na região para reduzir os custos, as grandes empresas levam seus encarregados de confiança, que normalmente não moram nem na região, nem na cidade.
Esses encarregados comumente são pessoas que tem um bom conhecimento técnico e liderança. Mas no nosso caso, o encarregado era o senhor Geraldo, um homem de meia idade que tinha bom conhecimento técnico, mas não se importava muito com o relacionamento com os outros funcionários da obra. Dentre os contratados um deles era Valdecir, um rapaz bom de braço, daqueles que descarrega um caminhão de sacos de cimento com facilidade, e sem choradeira.
Senhor Geraldo notou o trabalho desempenhado de Valdecir, mas como não se importava com o relacionamento, começou a chama-lo de Zé Buceta. Zé Buceta faz isso, Zé Buceta faz aquilo e sempre passando trabalho a Valdecir, referindo-se a ele como Zé Buceta, sempre rindo, estilo bonachão, dava alguns privilégios de horários para Valdecir, mas nada de chama-lo pelo nome.
Ao final da obra, é comum a grande maioria dos funcionários entrarem na justiça contra a empresa, pleiteando valores com horas extras. Mas o caso de Valdecir foi diferente, ele entrou com processo de assédio moral contra o Senhor Geraldo, o seu encarregado.
O Juridico da empresa que cuida desses casos estranhou, pois nunca havia um caso semelhante. Mas se precaveu e acertou várias testemunhas que trabalharam na obra junto com Valdecir e Geral para testemunhar a favor de seu encarregado.
Chegado o dia da audiência, o juiz solicitou a entrada do requerente Valdecir, que explicou ao Juiz que: durante todo o seu período de trabalho na obra, que seria quase um ano, sempre fora chamado de Zé Buceta, e isso o deixava encabulado e humilhado perante os colegas.
O juiz chamou as testemunhas de Valdecir que tinha duas pessoas ligadas a ele, que reafirmaram o testemunho de Valdecir.
Logo em seguida o Juiz mandou chamar a primeira testemunha de defesa a pedido do advogado da empresa.
Serenamente a primeira testemunha disse que Valdecir era o preferido de Senhor Geraldo, que tinha privilégios e era muito bem tratado.
O juiz mandou entrar a segunda testemunha e o texto quase que literal foi repetido, com o agravante que essa proteção e cuidado que Senhor Geraldo tinha com Valdecir era motivo de ciúmes de alguns funcionários.
Na oitava testemunha fazendo o mesmo discurso das duas primeiras, o juiz já estava com a pulga atrás da orelha, achando que Valdecir estava querendo aplicar um belo golpe de assedio. Mandou que parasse as testemunhas e que fosse chamado à falar o Senhor Geraldo, para tentar sentir as reações dos dois, frente a frente.
Senhor Geraldo entrou na sala, com seu jeitão de bonachão, sorridente, e um certo ar caipira. Parou à frente do Juiz e ficou olhando para ele. O juiz percebeu a simplicidade do homem, perguntou:
- Senhor Geraldo, o senhor  tem ciência do que está sendo processado?
Senhor Geraldo respondeu cabisbaixo, em respeito a autoridade.
- Olha seu Juiz, o advogado falou que é um tal de assedio, mas não sei direito muito bem o que é não.
O juiz deu aquela olhada técnica para o advogado e discorreu.
- O senhor está sendo acusado de assedio moral contra o Senhor Valdecir. Significa que o senhor por um tempo, o tempo de obra que trabalharam juntos, o senhor constrangeu e humilhou o senhor Valdecir, (apontou para Valdecir sentado) perante os outros funcionários, o que causou traumas ao Valdecir a ponto de fazer com que ele pedisse demissão e entrasse com este processo para reparar esse constrangimento.
Seu Geraldo prestou bem atenção no que o Juiz falou, levantou a cabeça o olhou para o Valdecir e disse ao Juiz:

- Esse Zé Buceta ai?

O GOSTO DO SANGUE

A Capa do livro está finalizando, mais alguns ajustes e vamos fechar.
Mas creio que está no caminho certo. Agora vamos para as bancas.


CONTOS

Pessoal, vou começar a publicar alguns contos, para quem gosta de estórias curtinhas.

sábado, 15 de agosto de 2015