CAPÍTULO 01
Noite de domingo de junho de 2012 em São Paulo, na casa do
vereador Luiz Barreto, a família se prepara para dormir. Sua esposa Valéria,
brinca com seu filho, tentando leva-lo para cama, mas o pequeno garoto de cinco
anos insiste em terminar o jogo de vídeo game que ainda está muito longe de seu
fim. Luiz está assistindo a um programa da TV, que mostra as intensões de voto
para a próxima eleição à prefeito de São Paulo, que apresenta seu nome como um
dos mais cotados para o futuro cargo. Ele sorri e comemora sutilmente sentado
em sua cadeira no escritório da casa.
Sua pretensão de candidato a prefeito de São Paulo é muito
bem recebida no partido, tem apoio popular pela sua luta pelos mais
necessitados e pelos diversos programas que faz junto a população mais carente,
independente da região da cidade, mesmo sendo eleito sempre na região da zona
norte.
Possui somente a aversão do partido de oposição em função do
cargo que os dois almejam, mas é uma daquelas poucas pessoas que tem aliados em
todos os lados de uma guerra, sem a necessidade de comprar ou corromper. Por
isto é tido como um futuro exterminador de corruptos.
No PDN (Partido da Democracia Nacional), Luiz Barreto tem
influencia e apoio de quase todos os membros, somente uma ala do partido não
corrobora com sua ideias de administração. Essa ala tem apoio junto aos
empresários da cidade, principalmente as grandes concessionárias. Mas Luiz
também conta com muitos empresários, principalmente aqueles que não conseguem
acesso junto à prefeitura.
As prévias do partido estão chegando e seu nome corre por
fora, um passo a frente de seu concorrente o vereador e médico Mauro Vieira,
que tem forte apoio de empresário, mas não é um nome muito conhecido dos
eleitores, principalmente da grande massa da população.
Sua confiança e a do partido é tão forte, que o cúpula do
partido já deixou a seu cargo a contratação do diretor de campanha e a
instalação de comitês pela cidade. A campanha será forte, direcionada as
classes mais necessitadas e menos atendidas pela prefeitura. Vão pegar as
principais ações feitas pela prefeitura junto a população mais carente, para
valorizar a administração atual e conscientizar que existe a necessidade de
continuar esse governo. Uma combinação infalível entre experiência politica do
partido, os feitos do atual governo e o carisma do candidato Luiz Barreto.
A campainha da porta toca. Valéria assusta e olha no relógio
que marca 21h35min. Apesar de ser uma casa muito grande, bem valorizada, Luiz
ainda não conta com seguranças particulares, e como o portão da frente é
somente para enfeite, o acesso a porta é fácil e convidativo a qualquer um para
tocar a campainha da porta.
Valéria ordena que seu filho suba as escadas em direção ao
seu quarto, vai até o escritório onde Luiz está assistindo TV, e não ouviu a
campainha da porta.
- Luiz, está esperando alguém? – diz Valéria se dirigindo a
ele.
- Não? – reponde Luiz tirando sua atenção da TV e
dirigindo-se a ela – Por quê?
- A campainha da frente está tocando. Tem alguém ai.
- Veja pela câmera quem é?
Valéria vai até o canto do escritório onde tem os monitores
das câmeras da casa e vê do lado de fora da porta que se trata de Luciano com
mais dois seguranças, todos de terno.
- É aquele Luciano – diz Valéria voltando a Luiz.
- Luciano? Aquele que queria ser meu diretor de campanha? –
ela assentiu - O que será que esse cara quer aqui? Eu não tenho nada com ele.
- Não sei, mas ele está na porta com mais dois senhores.
Todos de terno.
- De terno? Será que estão com algum problema?
A campainha volta a insistir. Luiz levanta-se, dá uma
conferida no espelho da parede em sua aparência e vai até a porta. Valéria vai
para cozinha tomar uma água enquanto Luiz abre a porta e recebe Luciano que
diz:
- Boa noite doutor Luiz, peço desculpas pelo dia e hora, e
também por ter vindo sem avisar. Mas é que temos um problema urgente e
precisamos de sua presença imediatamente no escritório do partido. – diz
Luciano cordialmente.
- Do que está falando? Aconteceu alguma coisa? Alguém morreu?
– questiona Luiz.
- Desculpe, mas eu infelizmente não estou totalmente a par
dos fatos, mas creio que tem haver com o ultimo resultado das intensões de
voto. Precisamos que o senhor nos acompanhe até o escritório do partido
- A esta hora da noite? Não entendo, o meu nome está muito
bem cotado. Desculpe, acho que não tem nada que não possa ser resolvido amanha.
- Detesto insistir senhor Luiz, mas tenho ordens de leva-lo
hoje ainda, pois quase todos os presidentes regionais do partido já estão se
dirigindo para lá.
- Presidentes regionais? – ele assentiu – Mas sem uma
convocação prévia, uma circulação de comunicado? Estranho isso. Não é comum o
organizador de eventos cometer uma gafe desta.
- Como eu disse antes, eu não tenho os detalhes doutor Luiz.
O que eu sei é que tenho que voltar com o senhor. Que talvez seja o mais
esperado desta reunião.
- Tudo bem. Só que você não precisa me levar. Eu vou trocar
uma roupa, dentro de alguns minutos eu chego lá, vou com meu carro mesmo.
- Eu tenho ordens do presidente da regional para escolta-lo
até a reunião. O senhor pode ficar tranquilo que serei seu condutor a noite
toda. O trago de volta ao final são e salvo.
Eu aguardo o senhor trocar sua roupa, mas insisto que irá conosco. –
Luciano sorri.
- Ok! Aguarde um pouco.
Luiz sobe as escadas até o seu quarto e encontra Valéria
aprontando-se para dormir. Ele abre sua parte do guarda roupa e começa a trocar
de roupa.
- Aonde você vai à uma hora dessas? – pergunta Valéria
arrumando a cama para deitar-se.
- Vou a uma reunião emergencial do partido. Segundo
informações, os presidentes regionais estarão lá e pedem a minha presença.
Achei estranho, mas em ano de eleições você sabe como são as coisas, mudam de
rumo o tempo todo. Isso já era como vereador, imagina agora como prefeito.
- Eu entendo, mas não pode deixar isso pra amanhã? O que vão
resolver num domingo a esta hora da noite? – pergunta Valéria.
- Isso é muito importante para mim. Não posso deixar que
nenhum gênio tenha alguma ideia e queira se lançar no meu lugar. Eu não posso
deixar passar essa chance. Agora é a minha vez de assumir a prefeitura. Eu
tenho que ir querida. E você sabe que neste país, as coisas são resolvidas na
calada da noite. As grandes coisas sempre foram assim neste país.
- Nem sempre. A independência foi no meio do dia. Mas tudo
bem. Qualquer novidade mande noticia.
Luiz já com seu terno e terminando de dar o nó na gravata,
vai até Valéria que está se deitando e dá um beijo de despedida. Desce as
escadas terminando de arrumar o nó feito as pressas e sai na companhia dos
homens.
O carro sai da casa do vereador na zona norte de São Paulo e
pega a marginal no sentido Airton Senna. Luiz tenta ligar para seus contatos,
sentado o banco de trás do carro ao lado de um segurança. Nos bancos da frente,
outro segurança dirige e Luciano está no banco do carona. Ninguém atende aos
telefonemas de Luiz que começa a ficar irritado. Ele percebe que andam muito
rápido e passam pela entrada da ponte das bandeiras.
- Que caminho é esse que você está tomando? – pergunta Luiz
para o motorista.
Temos que fazer uma visita antes. Coisa muito rápida que não
vai atrapalhar nosso destino. – responde Luciano sorridente.
O carro continua em alta velocidade de passa a entrada da
Dutra e continua sentido a Airton Senna. Luiz continua tentando o celular sem
sucesso e volta a prestar atenção no trajeto. Percebe que estão passando pelo
Parque do Tietê.
- Pra onde estamos indo? – pergunta Luiz.
- Calma Doutor. Nós vamos encontrar o pessoal que está nos
aguardando. – reponde Luciano sorridente.
- Quem está nos esperando?
Nesse instante o carro sai da rodovia pegando uma estrada de
terra no sentido do bairro do Vizinho. Sacolejando muito o carro enfrenta a
estrada esburacada, dando tantos socos que ele não consegue mais controlar o
seu celular. Seguem até um local ermo, sem nada por perto.
- Desculpe o desconforto Vereador, mas já estamos chegando. –
diz Luciano sorridente.
O carro avança por mais alguns segundos e para bruscamente
com a poeira passando e impregnando nos vidros de carro, deixando as janelas
marrom.
- Chegamos Doutor. – diz Luciano abrindo a porta do carro.
Ele e o segurança da frente saem do carro.
- Luciano você está de brincadeira comigo. Que lugar é este?
Eu vou chamar a policia. – Luiz pega o celular do bolso e recebe um golpe do
segurança ao seu lado no carro deixando o aparelho cair. O golpe faz seu nariz
sangrar.
- Calma doutor. – fala Luciano abrindo a sua porta - Se ficar
quietinho vai ser rápido.
- Desgraçado, quebrou meu nariz. O que vocês querem comigo? –
com a mão no rosto, pela dor do golpe.
Luciano puxa Luiz para fora do carro, que tenta resistir, mas
é Luciano é muito mais forte e o retira do carro. Luiz sai forçado dando passos
descontrolados pela irregularidade do solo e para à frente deles.
- Com os cumprimentos da Aquárius.
Luciano dá um soco direto no rosto de Luiz que ameaça cair,
um segurança e apoia e desfere outro golpe em sua costela. Uma seção de
espancamento começa sobre Luiz, que recebe golpes dos três. Cai no chão e
recebe chutes de todos os lados. Quando ele parece perder o sentido, os
seguranças o apoiam e colocam de joelhos. Luciano se aproxima, fica a frente
dele e aponta uma pistola para Luiz: - O senhor foi acusado de delação,
perjúrio e traição com seus companheiros.
- Eu nunca fui seu companheiro. – diz Luiz quase gemendo.
- O problema é esse doutor. O senhor não quis fazer parte da
nossa gloriosa instituição. Mas o senhor chegou a conhecer, e sabendo da
existência dela, o senhor se torna um perigo para a nossa fraternal irmandade.
Não podemos deixar que o senhor venha a delatar qualquer membro da nossa
instituição, ou comprometer os seus objetivos. Por isso, antes que o senhor
cometa os seus crimes conta a instituição, sua pena será executada. Agimos
antes que o mal cresça. – dispara alguns tiros no peito do vereador que cai ao
chão e ele termina o serviço com total de nove tiros.
Luciano faz sinal para todos entrarem no carro, que assim o
fazem e sai rapidamente pelo mesmo local que vieram, deixando o corpo de Luiz
no chão.
Segundos depois, chegam cinco rapazes ligados ao chefe do
morro, que chamam de movimento, com lanternas apontando para o corpo de Luiz.
Ao se aproximarem é possível ver melhor que são garotos armados de fuzil e
pistolas. Eles chegam até o corpo do vereador. Um rapaz fala para o líder
deles:-
- É esse ai a encomenda?
- É esse mesmo. Leva ele lá pra rua e deixa o corpo lá.
Amanhã cedo avisa os alemão que achamos o corpo dele jogado na rua.
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